patrimônio histórico
patrimônio histórico
Pinacoteca do Estado de São Paulo | 1998 | São Paulo, SP
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Construído na última década do século dezenove para abrigar o liceu de artes e ofícios nunca foi totalmente concluído. Já em novembro de 1905 foram executadas as primeiras obras de adaptação, ainda sob o plano e direção do arquiteto Ramos de Azevedo, para receber a primeira coleção de quadros pertencentes ao estado e que passaram a constituir a Pinacoteca.
De lá para cá, o edifício passou a receber diversos tipos de ocupação e toda a sorte de absurdas agressões e abandono, desde a inclusão de piso intermediário numa ala inteira, para abrigar uma escola com milhares de alunos, até as transformações, inevitáveis, dos arredores, desengonçando sua implantação, quando deveriam manter-se cuidadosas com a sua arquitetura peculiar. O prédio em si também sofreu estragos, consequência das águas, do estado dos telhados, goteiras e entupimentos das prumadas de águas pluviais, principalmente.
A construção conservou-se sólida, sem recalques ou rachaduras. Intacta quanto ao arcabouço principal, mas os delicados perfis das cimalhas e frisos, esculpidos no mesmo tijolo de barro, apresentavam-se bem estragados. Os espaços, arquitetura dos interiores, reclamavam por uma adequação propícia diante das dimensões dos salões e das alas para abrigar, de modo decidido, o extraordinário acervo e ficar preparado, o prédio, para receber no tempo, sem transtornos, novos equipamentos complementares, prevenir para um destino bem determinado. Uma questão de arquitetura, eminentemente técnica.
A primeira etapa dos trabalhos foi um levantamento geral, com detalhes, da construção no estado em que estava e o estabelecimento de um programa funcional. Foi desenhado um estudo básico, uma proposta íntegra, anteprojeto, que foi aprovado pelos órgãos competentes.
O objetivo primordial da obra foi a adequação do edifício às necessidades técnicas e funcionais para receber definitivamente a pinacoteca do estado, cujo perfil funcional estava perfeitamente delineado pela sua localização urbanística, pelos espaços internos, pelo público potencial e pela ideia de ampliação do acervo, recepção de exposições temporárias e dotação do prédio de toda a infra estrutura necessária.
O projeto procurou resolver os problemas detectados no diagnóstico do prédio: a umidade que paulatinamente degradava as robustas paredes em alvenaria de tijolos de barro; a complicada distribuição das áreas de exposições espalhadas por inúmeras salas e estruturada a partir dos vazios internos conformados por uma rotunda central em forma octogonal e dois pátios laterais e, ainda, o plano de acesso, comprometido pelas transformações urbanas ocorridas nas áreas entorno do edifício.
Os vazios internos foram cobertos por claraboias planas, confeccionadas em perfis de aço e vidros laminados. Evitou-se a entrada de chuva e garantiu-se, através da ventilação, a reprodução das condições originais de respiração do conjunto dos salões internos. Ao mesmo tempo, possibilitou uma nova utilização desses espaços: no nível do chão, salões de pé direito triplo, que possibilitam uma nova articulação entre todas as funções, liberta da rígida planta original; nos pisos superiores foram instaladas passarelas metálicas vencendo os vazios dos pátios laterais; no vazio central, foi construído o auditório, cuja cobertura, no primeiro pavimento, transformou-se num saguão monumental que articula, em conjunto com as passarelas, praticamente sem barreiras, através dos eixos longitudinal e transversal do edifício, todos os seus espaços. Em um pátio lateral foi instalado um grande elevador para o público e montagens.
As esquadrias das janelas das fachadas internas puderam ser retiradas e mantidos seus vãos abertos, gerando uma grande transparência e destacando as grossas paredes autoportantes de alvenaria de tijolos.
Criou-se, dessa forma, uma nova espacialidade em todo o recinto da pinacoteca: na sucessão dos espaços, no fluxo dos visitantes, na luminosidade, produzida ou reproduzida com os recursos arquitetônicos projetados.
Com a viabilização da nova circulação pelo eixo longitudinal do edifício, interligando as duas varandas laterais, e devido ao fato de estar o prédio numa esquina, a entrada do museu foi transferida para a frente da praça da luz, na face sul, modificando-se a sua implantação com relação à cidade. Ressalta-se a utilidade importante do uso das varandas como espaços de acolhimento, uma área vestibular ainda externa, mas abrigada e equipada com serviços ao público. também foi corrigido, dessa forma, o inconveniente estrangulamento entre o prédio e a avenida tiradentes. O acesso é, agora, possível a partir de um amplo recuo com relação a praça da luz, espaço externo largo e contínuo, estabelece um diálogo interessante com o belo edifício da estação da luz e a animação proporcionada pelo metrô e pelo parque, ao lado.
Ao criar um eixo de circulação e modificar o acesso, o projeto criou um terraço / belvedere no local da antiga entrada, área de estar externa e aberta que possibilita a vista da paisagem urbana próxima.
A construção original foi essencialmente mantida como encontrada, conservadas, inclusive, as marcas dos antigos andaimes e as das ocupações e intervenções anteriores. Todas as intervenções propostas pelo projeto foram justapostas e tornadas evidentes.
As fachadas externas foram preservadas como se mantiveram nestes 100 anos de existência do edifício. A sua alvenaria de tijolos aparentes é uma imagem forte e marcada na cidade. A solução foi limpar e neutralizar agentes agressivos acumulados pela poluição, manter os incontáveis meandros dos ornamentos esculpidos nos tijolos, muito desgastados, e proteger quimicamente de forma adequada, conservando a cor e textura.
Quanto aos materiais utilizados, o aço foi o principal material construtivo adotado. Está presente nas passarelas, nos elevadores, nos parapeitos, nas novas escadas, nas estruturas dos novos pisos e coberturas, nas esquadrias e nos forros. seu uso foi devido a sua melhor adequação às condições locais de execução, sua leveza (material e desenho) e por estabelecer um diálogo interessante e desejável com a construção original, entre o novo e o antigo.
proprietário
Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo
localização
Praça da Luz, n° 2 - Bairro da Luz - São Paulo/SP
projeto original
Arquiteto Ramos de Azevedo
data construção
1896/1900
uso original
Liceu de Artes e Ofícios
uso atual
Pinacoteca do Estado de São Paulo
tombamento
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – Condephaat
data projeto
1993 / 1997 | data conclusão obra fevereiro de 1998
área terreno
7.500 m2 | área construída 10.815 m2
arquitetura
Paulo A. Mendes da Rocha Arquitetos Associados S/C LTDA.
Ricoy Torres e Colonelli Consultoria e Projetos S/C LTDA.
arquitetos
Paulo Archias Mendes da Rocha, Eduardo Argenton Colonelli, Weliton Ricoy Torres (autores)
Ana Paula Gonçalves Pontes, Elisa Cristina Marchi Macedo, Miguel Lacombe de Goes, Adriana Custódio Dias, Andréa Ferreti Moncau, Carla Cristina Palli, Celso Nakamura, Eloise Scalise, Marina Grinover e Silvio Oksman (colaboradores)
estrutura
Jorge Zaven Kurkdjian
Waldir Carlos Pomponio
instalações
PEM Engenharia
Thermoplan Engenharia Térmica LTDA.
Nelson Kon
luminotécnica
Piero Castiglioni
CONSULTORIAS
acústica
Milton Granado
paisagismo
Raquel Fabbri Ramos
conservação
Luiz A. C. Souza
cozinha
Precx Consultoria em Alimentação
construção
RBS Construções LTDA. 1993 / 94
construtora
Martur LTDA. 1996 / 98
Rua São Vicente de Paulo 95 cj 124 | Santa Cecília | CEP 01229-010 | São Paulo SP Brasil | epaulistano@epaulistano.com.br