o objetivo da proposta é a ampliação do edifício do museu paulista, projetado e construído no final do século xix por tommaso g. bezzi, tombado pelos órgãos oficiais de preservação patrimonial, no recinto do parque da independência. existe uma necessidade real de ampliação e adequação das suas instalações a fim de que a instituição possa atualizar-se e dar continuidade e expansão às suas atividades científicas, acadêmicas e culturais. o programa de necessidades implica na criação de novas áreas que possibilitem atuar de acordo com princípios de desenvolvimento científico e didático, estabelecendo ampla relação com o público em geral, caracterizado por um perfil de ampla diversidade. é importante e estratégico que as novas áreas estejam integradas física e funcionalmente com as áreas existentes.

 

nesse sentido são relevantes os seguintes pontos:

 

a) o museu paulista, com seu entorno, representa lugar de profundo valor simbólico e referencial, pleno de significado nacional. sua ampliação inserida no parque se justifica porque o museu é a razão de ser do próprio parque.

 

b) a proposta museológica, desenvolvida ao longo de vários anos pela equipe técnica do museu paulista, define o edifício de bezzi como sua principal referência simbólica. a intervenção de ampliação e modernização visa destiná-lo integralmente para a visitação pública além de permitir um olhar para a cidade a partir do eixo monumental, como um mirante;

 

c) não obstante o fato de o edifício histórico ser adequado para abrigar grande parte da exposição do acervo devido às características das peças em questão, se faz necessária a constituição de novas áreas expositivas, sobretudo para peças de grandes dimensões e peso, com condições diferenciadas para exposição e apreciação (p.ex. carros antigos, maquete da cidade de são paulo, etc..). este local também será destinado, preferencialmente, às exposições temporárias, incluindo intercâmbios com museus nacionais e internacionais, prática atualmente impossibilitada pela falta de um espaço amplo e livre para exposições.

 

d) existe a necessidade de ampliação e adequação das condições ambientais para a reserva técnica, laboratórios, e nos espaços destinados a ensino, pesquisa e documentação, além das áreas administrativas e de serviços gerais, o que deve ocorrer em uma nova edificação, uma vez que se considera imprópria a ampliação da construção tombada;

 

e) a urgência na adequação das condições de acessibilidade, circulação e segurança às exigências das normas técnicas e legislação;

 

a proposta para o museu paulista, hoje instalado inteiramente no edifício histórico, pretende construir uma nova realidade a partir de três intervenções integradas. a modernização e adequação do edifício histórico, uma nova área expositiva e um edifício para abrigar as atividades acadêmicas, científicas e administrativas.

o objetivo principal para o edifício histórico é destiná-lo à exposição do acervo. neste sentido, é prioridade a questão da circulação, acessibilidade plena e segurança (escoamento da população). o sistema de circulação vertical composto apenas pela escadaria central, monumental, interligando três dos quatro pavimentos e as belíssimas escadas, representativas de uma carpintaria sofisticada do final do século xix, se mostra incompleto e deficiente, não sendo adequados nem aos planos museológicos nem aos novos fluxos esperados.

 

a proposta prevê a adição de duas prumadas de circulação vertical (escadas e elevadores) na fachada sul, oposta ao eixo monumental e voltada para o antigo horto botânico. localizadas uma em cada extremidade do longo edifício, possibilitam a ligação entre todos os pavimentos e estabelecem a desejada continuidade dos fluxos de visitação. a opção de localizar internamente essas prumadas foi avaliada e descartada devido às demolições tremendas e às modificações permanentes que acarretariam no espaço interno. externas, contém caráter de reversibilidade e, com exceção das esquadrias dos pontos de ligação, não interferem com nenhum dos elementos constituintes da fachada tombada, equacionam as rotas de fuga e possibilitam a interligação com as áreas de ampliação.

 

as novas prumadas de circulação foram centralizadas em relação aos volumes das torres laterais respeitando a simetria da fachada. seu desenho e solução construtiva procuram registrar o mínimo de interferência com a construção existente e observa afastamento que permite a conservação da visibilidade e leitura das suas fachadas. com linguagem contemporânea, estabelece a desejada relação entre o antigo e o novo. as passarelas de conexão e acesso se ajustam às envasaduras das janelas existentes no centro dessas fachadas. cada uma delas contempla elevador com capacidade para 25 pessoas e escada dimensionada conforme a população prevista para o edifício. a caixa do elevador, centralizada na planta, tem função estrutural e a escadaria desenvolve-se à sua volta em balanço, aliviando as estruturas das fachadas constituídas em cristal transparente. a solução adotada para o fechamento considera o efeito da transparência e da reflexão como atributos favoráveis à integração dos novos volumes ao monumento enquanto possibilitam, aos usuários do museu, ao percorrer as escadarias, nova visibilidade da construção e do lugar onde está implantada.

 

para abrigar o programa técnico, científico, e acadêmico, bem como os serviços gerais e de administração, está sendo proposto um novo edifício localizado na área atualmente ocupada pelo corpo de bombeiros e, portanto, já impactada com relação à vegetação do parque. a localização é estratégica com relação ao edifício antigo: distante suficientemente para não interferir na visibilidade do bem tombado e próximo o necessário para permitir a interligação das duas áreas. possibilita um novo acesso para esses setores específicos e também configura uma alternativa para as novas áreas expositivas no subterrâneo do parque.

 

o projeto prevê a construção de um edifício com cinco pavimentos incluindo o térreo. dois pavimentos superiores e outros dois inferiores ao nível de acesso ajustam o novo edifício às diretrizes de gabarito emitidas pelo conpresp (máximo de 10m de altura) para novos edifícios na área envoltória do museu paulista. os pavimentos, com projeção de 45x45m, foram resolvidos a partir de uma área central destinada preferencialmente às reservas técnicas, envolvidas por um anel de utilidades com áreas para equipamentos, prumadas de instalações e circulação vertical. as áreas periféricas, abertas para o parque, são destinadas aos serviços de pesquisa, documentação e administração. a solução estrutural é definida a partir do anel de serviços ao redor das reservas técnicas, com os salões periféricos em balanço.

 

o edifício está implantado na cota do 2° pavimento abaixo do térreo, e desenvolve-se numa área “escavada” mais ampla que a sua projeção - 2,5m nas laterais e 10m no recuo da avenida nazareth e da praça interna do parque. no térreo estão o controle, recepção e acesso geral aos pavimentos superiores e inferiores. este pavimento também deve abrigar as áreas da diretoria, da biblioteca e da divisão cultural, além de um pequeno auditório para 80 pessoas e área de uso múltiplo. a área de carga-descarga está ligada com a avenida através de rampa diretamente para o 1º pavimento inferior, onde se localizam os serviços gerais, desinfecção e quarentena e possibilita acesso direto às reservas técnicas através dos elevadores. no 2° pavimento inferior estão localizadas as áreas de apoio aos funcionários e usuários do museu (café, refeitório, estar).

 

novos espaços expositivos e serviços ao público serão localizados no bloco subterrâneo de interligação. implantado no subsolo do parque, no eixo do edifício antigo, é composto por dois pavimentos e está localizado sob área definida por duas alamedas do parque. a solução subterrânea foi adotada no sentido de manter as áreas livres de uso público do parque, não aumenta a área pavimentada e minimiza as interferências com vegetação. composto por espelho d’água circundando a clarabóia de iluminação propõe a execução de nova praça com solução paisagística readequada ao entorno do bem tombado permitindo a ampliação das suas perspectivas visuais. o acesso às novas áreas expositivas a partir do parque será independente passando ao largo do novo edifício e, através de sistema de rampas, conecta um amplo saguão contendo auditório para 400 pessoas, loja e café.

 

a integração entre o edifício histórico e o subterrâneo de exposições e, a partir daí, com o novo edifício, foi estudada de forma a resultar numa solução arquitetônica considerando a possibilidade de minimizar o impacto na antiga construção. foram igualmente considerados os aspectos de intensidade e distribuição de fluxos e estabelecidos três pontos de conexão:

 

a) a partir do saguão principal pelo eixo central do antigo edifício e do subterrâneo, em continuidade do eixo monumental. como desdobramento do saguão principal, pelos eixos correspondentes às suas portas laterais, é proposto um salão junto à fachada sul como conseqüência da integração dos três compartimentos existentes. a partir deste novo salão, de onde se pode perceber o parque e o jardim, será estabelecido o trajeto que interliga o térreo do edifício antigo com o primeiro nível do subterrâneo de exposições, através de escadas rolantes com fluxos constantes e independentes de descida ou ascensão. com essa solução, integram-se todas as áreas em torno da escadaria central do edifício histórico, fica reforçado, portanto, o eixo principal e mantém-se preservado o saguão. nesta área serão, então, concentradas as obras de contenção, escavação e reforço estrutural que permitirão a interligação pretendida neste ponto, sendo a passagem, de um para outro edifício, feita sob os baldrames do edifício existente.

 

b) pelas duas novas prumadas de circulação propostas no edifício antigo a partir de galerias que as integram com o primeiro nível subterrâneo. as conexões nesses pontos possibilitam o acesso aos elevadores e, consequentemente, a todos os pavimentos do edifício antigo, tornando-se, portanto, estratégicas também para a logística interna do museu. da mesma forma que no edifício antigo, esses pontos se constituirão em saídas de emergência do subterrâneo.

 

a intervenção proposta no museu paulista está afinada com condutas adotadas em obras recentes, de significado e caráter semelhantes, onde o intuito da preservação está associado à transformação, modernização e adequação da construção às novas demandas. considera, ainda, as orientações dos acordos internacionais pertinentes. mesmo considerando as peculiaridades de cada caso, não podemos deixar de relacioná-la com as intervenções propostas, por exemplo, para o museu do louvre, em paris, e rainha sofia, em madri. estas obras registram soluções para as questões de acesso e circulação que, transcendendo as possibilidades dos espaços internos, acarretaram transformações que se revelam externamente nas relações do edifício com seu entorno próximo. sem ser o objetivo inicial do trabalho, enquanto desdobramento do entendimento do edifício e do lugar, bem como dos conseqüentes critérios e parâmetros estabelecidos, a proposta caminhou nessa direção. os volumes das novas prumadas de circulação, associados ao edifício antigo, dialogam com a nova praça no parque - cobertura das áreas expositivas, reveladas pela clarabóia de iluminação – e com o novo edifício técnico, renovando as relações espaciais na dinâmica de utilização do parque.

 

arquitetura

eduardo colonelli e silvio oksman(autores)

eduardo gurian, fabiana cyon, rodrigo lacerda, priscila azambuja, rafael baravelli, vito macchione (colaboradores)

 

consultoria de preservação e restauração

beatriz mugayar kuhl

maria lucia bressan pinheiro

 

consultoria estrutural

jorge zaven kurkdjian

 

consultoria de engenharia

telar engenharia

 

programa e museologia

museu paulista da universidade de são paulo

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